domingo, 30 de maio de 2010

Cemitério de Casas - Parte II


 A parada já terminara, só sobrara o caminho que quase acabara.
Foram ter a um descampado, sombrio, escondido do sol, só sobressaindo as sombras dos andares. Havia de lá de tudo, moradias de cem andares, prédios só com o piso terreno. Nada, era o que se sentia por lá, nada, era o que passava por lá, nada era o que se ouvia por lá, nem a voz do seu fado nem o murmúrio da sua lamentação, Fauna nenhuma, nem pombos a planarem nem ratos a escavarem nem baratas correrem, Flora alguma, daninhas desistiam, heras decresciam, tudo era fugidio.
O filme acabara sem galardões a entregar, Oscar's definhados nem existiam, para aquelas que o sopro já não sobrevivia. Agora só o pouco testemunho que deixavam, mesmo ao ponto de inexistir, da sua efémera magia.
Então escolhiam os seus lugares ao acaso e a sua posição como cabiam, verticalmente ou horizontalmente, desalinhadas ou centradas, apertadas ou alargadas, simplesmente como lhes servia. E o que lhes servia, servia aos outros, compunham-se como os outros lhe convinha sem a preocupação da linha que antes faziam. Mas elas eram em demasia, sempre que uma se mexia a última da fila se arrependia.
Que tristeza era a sua, ansiando que, os que nunca sentiram a sua mágoa de existir para deixar de ser, não tivessem a fortuna que saía a estas poucas mais cedo do que se esperava, e fossem as afortunadas que são mais do que lhe projectaram.

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