quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Insipência

Estamos perante um mundo onde a discriminação, ou a ignorância, não deveriam existir, mas a verdade é que mesmo com a era da informação permitimos o refúgio de mentalidades um pouco retrógradas. Um dos maiores exemplos deste paradoxo é o especismo que, para além de ser pouco reconhecível no presente é também incoerente em relação há moral humana. O que justifica este paradoxo na sociedade? O que nos distingue dos ignorados?
Como em tantos outros casos de discriminação a superioridade, ou o pensar-se superior, é importante aqui. Para que determinemos a superioridade humana temos que nos basear no que num senhor escreveu há precisamente cento e cinquenta anos atrás, sendo um naturalista profundo ele baseou esse seu livro na evolução das espécies, onde cada ser vivo é um aperfeiçoamento do seu parente anterior, esse livro naturalista é A Origem Das Espécies escrita por Charles Darwin. Retomando o assunto perdido, a superioridade humana foi sempre baseada na inteligência, no Homem como animal da razão, mas segundo Darwin, e outros anteriores e posteriores, o Homem não é nada mais como o aperfeiçoamento de animais anteriores a ele, desde o macaco ao hominídeo, perdendo dons e ganhando outros, “We need another and a wiser and perhaps a more mystical concept of animals. […] We patronize them for their incompleteness, for their tragic fate of having taken form so far below ourselves. And therein we err, and greatly err. For the animal shall not be measured by man. In a world older and more complete than ours they move finished and complete, gifted with extensions of the senses we have lost or never attained, living by voices we shall never hear.” The Outermost House de Henry Beston, está bem denunciado neste excerto como incompletos somos nós apenas dotados pela nossa inteligência.
Mas neste caso em particular não se pode falar só em inteligência, ou em dons. É garantido que eles não ambicionam o que nós ambicionamos, desprezam dinheiro, poder, beleza, etc. … Mas eles necessitam e querem variadíssimas coisas que nós necessitamos e queremos como a alimentação, o abrigo do frio e do calor, a necessidade do amor de mãe, o querer viver livre, etc. … Porém retiramos-lhes esses requisitos mínimos para o bem-estar, demasiado bem-estar, da nossa sociedade. Negamos-lhes muitas vezes comida, a liberdade, o amor e a compaixão para que tenhamos tudo o desnecessariamente precisamos nas nossas vidas.
Em último caso é a ignorância que protege o especista, o discriminador em suma. Quantas vezes ouvimos alguém a dizer “não me digas que depois não janto” ou “eu não posso ver isso, isso acabaria comigo”, preterindo o caminho árduo e iluminado a um caminho fácil mas coberto em escuridão. E se nada nos distingue sem ser a ignorância, caberá àqueles, os sábios, ensinar o caminho.