domingo, 25 de julho de 2010

Ela nunca falava


Ela nunca falava. Sentava-se e enquanto bebia o seu café separava-se sem a pressa habitual de quem tentava aproveitar este momento de descanso. Calava-se ou mantinha-se calada, ninguém sabia responder, mas que ela não falava, nunca, toda a gente sabia. Talvez fosse esta apatia que vinha dela, talvez fosse a necessidade de ouvir algo vindo dela, reparava com mais intensidade e ambicionara pelos menos uma onomatopeia arrancada da sua garganta, mas ela nunca falava. Admirava-a enquanto ela fumava, quebrava a respiração quando ela expirava na esperança da palavra que faria sentido ao seu silêncio, no entanto ela nunca falava. Ansiava, enquanto ela pagava, a reclamação comum entre os fregueses, porém ela nunca falava. Angustiado pela sua inexistência, sofria pela palavra que nunca ouvira mas por enquanto ela nunca falava. Se lhe perguntar será que me responde? Respondi perguntado mas mesmo assim descobri que ela não fala.

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